Entrevistamos a
professora de ensino médio Gláucia Grüninger Gomes Costa. Ela possui graduação
em Física (Bacharelado e Licenciatura) pela PUC, é professora de ensino médio e
há dez anos é colaboradora de pesquisa na USP – São Carlos. Fez seu mestrado em
espectroscopia de lente térmica e doutorado em equipamentos médicos na USP –
São Carlos. Desenvolve material didático no formato investigativo, juntamente
com o professor Tomaz Catunda.
Em um encontro de
duas horas ela nos contou um pouco do projeto que leva professores do ensino
médio para visitar o CERN, na cidade de Genebra, Suíça. O projeto é coordenado
no Brasil pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), com apoio da Diretoria de
Educação Básica da CAPES e em parceria com o LIP (Laboratório de Instrumentação
e Física Experimental de Partículas), em Lisboa, o curso seleciona 30
professores de Ensino Médio do Brasil para uma visita ao CERN.
Para participar do
programa é necessário passar pelo processo de seleção de professores, o
que implica satisfazer algumas exigências como: estar
lecionando no ensino médio; estar envolvido na Olimpíada Brasileira de Física;
apresentar trabalhos em simpósios; manter algum vínculo com a Universidade; e,
fundamentalmente, demonstrar que abraça a causa do ensino de física no
ensino médio. Gláucia nos explica ainda que, para um professor de ensino médio
que não mantiver algum vínculo com uma Universidade terá
dificuldades em conseguir a vaga, pois necessariamente ele precisa ter produção
acadêmica, o que no Brasil, no ensino médio é praticamente impossível. Glaucia
desenvolve na USP lousas com lentes térmicas – espectroscopia.
A professora ainda
levanta outro ponto muito importante que é o de envolver os alunos em eventos
relacionados ao aprendizado de física, como, por exemplo, os minicursos de
robótica. . A Profa. Gláucia, mesmo reconhecendo as dificuldades
envolvidas na participação de professores da educação básica em projetos
voltados para a melhoria do ensino, reconhece ser essa participação de extrema
importância:
“Se você é um
professor que participa, seu aluno participa, você é o exemplo para seus
alunos”.
Glaucia enfoca
também que ela entende as dificuldades dos professores, principalmente por ela
estar inserida neste meio, mas acredita que com esforços os professores são
capazes de mudar esta cultura de não participação, para conseguirem melhorar a
qualidade e a maneira como a profissão docente é hoje tratada. Assim
como acredita também que os professores de física, devem ter um amplo
conhecimento de todo o conteúdo de física, desde física clássica até física
moderna.
No ano que realizou
a visita foram apenas quatro professores do ensino médio e mais
vinte professores universitários. Dentre esses quatro estavam ela, ligada à USP
– São Carlos, um professor ligado à UNICAMP, outro ligado à USP – São Paulo e
outro à UFRJ.
O Brasil, por não
ser membro do CERN, participa do projeto na cota de professores de Portugal, o
que num primeiro momento dificultou o convívio social dos brasileiros com os
professores portugueses que entendiam, incorretamente, que Portugal financiava
os brasileiros. Após algumas conversas eles entenderam que os brasileiros
apenas estavam na cota do número de professores, assim como estavam todos os
outros países falantes da língua portuguesa. Os vouchers e os
seguros eram pagos pela SBF, Sociedade Brasileira de Física, também nos contou
que havia uma pessoa encarregada pelos pagamentos, os gastos com condução e
alimentação foram restituídos após apresentação dos comprovantes. Assim para a vivência e viagem não houve gasto algum
por parte dos professores.
A estadia deu-se em
uma cidade localizada na França, Saint-Genis-Pouilly, bem próxima ao CERN que
está localizado na cidade de Genebra, Suíça. Segundo a professora a experiência
foi muito enriquecedora, desde andar de
ônibus à viajar e ter uma maior interação com as cidades a sua volta, na
visão de Gláucia foi de grande valia. Na
cidade, as ruas possuem nomes de grandes cientistas, tal como Tesla e
Albert Einstein.
Chegando ao CERN
pelo domingo à tarde, já se iniciaram os cursos, que durante a semana foram
ministrados no período da manhã, já o período da tarde era reservado para
visitas técnicas. A grande educação e tratamento dos profissionais do local
chamaram a atenção de Gláucia. Durante um almoço, por exemplo, você
podia sentar-se ao lado de um prêmio Nobel e ele iria se mostrar totalmente
receptivo para conversar e falar sobre o trabalho que desenvolvia. Inclusive
era uma recomendação que na hora do almoço nos sentássemos ao lado de um
desconhecido, pois assim poderíamos conhecer mais pessoas, ter
conversas e contato com cientistas e trabalhos distintos todos os dias.
Um ponto
interessante foi saber que os professores portugueses, ao retornarem a
Portugal, teriam uma prova teórica sobre os cursos desenvolvidos no CERN, que
eram principalmente de física de partículas, e que para a continuidade de seu
desenvolvimento eles deveriam ter um rendimento satisfatório. Bem diferente do
Brasil, onde ela disse que em nenhum momento foi questionada pela sua
Secretaria de Ensino sobre o que foi feito lá.
Porém a Gláucia
optou por retornar este investimento feito a ela para a sociedade. Ministrou
palestras, deu entrevistas a jornais e canais de TV, fez um relatório extenso e
entregou à Secretaria de Educação. Mesmo não sendo cobrada a respeito, se
sentiu na obrigação de dar retornou depois do investimento que o Estado fez na
sua formação.
O único fato, dito
na base de brincadeira, que desagradou Gláucia foi que ela apenas pode ir uma
vez, pois de acordo com o programa, o professor pode ir uma única vez para assim
dar oportunidade de participação a outros professores.
Em sua visita ela
presenciou alunos poloneses, alemães e franceses fazendo visitas ao CERN. O
principal enfoque do CERN é tentar despertar a vontade e curiosidade dos alunos
para gostarem da área de ciências exatas, pois o número de engenheiros,
químicos, astrofísicos, físicos e demais pesquisadores em exatas está caindo
drasticamente.
Gláucia entende que
deveríamos fazer algo semelhante no Brasil. Temos em Campinas o Laboratório
Nacional de Luz Síncroton (LNLS) onde os pesquisadores poderiam
abrir suas portas e mostrar os trabalhos e pesquisas para assim atrair a
atenção dos alunos para as ciências exatas. Diz que se cada diretoria de ensino
levasse 20 alunos, o número de alunos interessados em ciências exatas na
Universidade cresceria de forma significativa. Enquanto no CERN os
pesquisadores querem abrir suas portas, no LNLS parece que os pesquisadores
querem fechá-las. É esse tipo de pensamento que deveríamos mudar como cultura e
incentivar nossos jovens para o desenvolvimento da ciência.
“Física
para mim é a base do mundo”, Gláucia.
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