quinta-feira, 9 de abril de 2015

CERN – Professores de Ensino Médio também podem - com Gláucia Grüninger




Entrevistamos a professora de ensino médio Gláucia Grüninger Gomes Costa. Ela possui graduação em Física (Bacharelado e Licenciatura) pela PUC, é professora de ensino médio e há dez anos é colaboradora de pesquisa na USP – São Carlos. Fez seu mestrado em espectroscopia de lente térmica e doutorado em equipamentos médicos na USP – São Carlos. Desenvolve material didático no formato investigativo, juntamente com o professor Tomaz Catunda.
Em um encontro de duas horas ela nos contou um pouco do projeto que leva professores do ensino médio para visitar o CERN, na cidade de Genebra, Suíça. O projeto é coordenado no Brasil pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), com apoio da Diretoria de Educação Básica da CAPES e em parceria com o LIP (Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas), em Lisboa, o curso seleciona 30 professores de Ensino Médio do Brasil para uma visita ao CERN.
Para participar do programa é necessário passar pelo processo de seleção de professores, o que  implica satisfazer algumas exigências como:  estar lecionando no ensino médio; estar envolvido na Olimpíada Brasileira de Física; apresentar trabalhos em simpósios; manter algum vínculo com a Universidade;  e, fundamentalmente, demonstrar que abraça a causa do ensino de física no ensino médio. Gláucia nos explica ainda que, para um professor de ensino médio que  não mantiver algum vínculo com uma Universidade terá dificuldades em conseguir a vaga, pois necessariamente ele precisa ter produção acadêmica, o que no Brasil, no ensino médio é praticamente impossível. Glaucia desenvolve na USP lousas com lentes térmicas – espectroscopia.
A professora ainda levanta outro ponto muito importante que é o de envolver os alunos em eventos relacionados ao aprendizado de física, como, por exemplo, os minicursos de robótica. .  A Profa. Gláucia, mesmo reconhecendo as dificuldades envolvidas na participação de professores da educação básica em projetos voltados para a melhoria do ensino, reconhece ser essa participação de extrema importância:

“Se você é um professor que participa, seu aluno participa, você é o exemplo para seus alunos”.

Glaucia enfoca também que ela entende as dificuldades dos professores, principalmente por ela estar inserida neste meio, mas acredita que com esforços os professores são capazes de mudar esta cultura de não participação, para conseguirem melhorar a qualidade e a maneira como a profissão docente é hoje tratada.  Assim como acredita também que os professores de física, devem ter um amplo conhecimento de todo o conteúdo de física, desde física clássica até física moderna.
No ano que realizou a visita  foram apenas quatro professores do ensino médio e mais vinte professores universitários. Dentre esses quatro estavam ela, ligada à USP – São Carlos, um professor ligado à UNICAMP, outro ligado à USP – São Paulo e outro à UFRJ.
O Brasil, por não ser membro do CERN, participa do projeto na cota de professores de Portugal, o que num primeiro momento dificultou o convívio social dos brasileiros com os professores portugueses que entendiam, incorretamente, que Portugal financiava os brasileiros. Após algumas conversas eles entenderam que os brasileiros apenas estavam na cota do número de professores, assim como estavam todos os outros países falantes da língua portuguesa. Os vouchers e os seguros eram pagos pela SBF, Sociedade Brasileira de Física, também nos contou que havia uma pessoa encarregada pelos pagamentos, os gastos com condução e alimentação foram restituídos após apresentação dos comprovantes. Assim  para a vivência e viagem não houve gasto algum por parte dos professores.
A estadia deu-se em uma cidade localizada na França, Saint-Genis-Pouilly, bem próxima ao CERN que está localizado na cidade de Genebra, Suíça. Segundo a professora a experiência foi muito enriquecedora, desde andar de  ônibus à viajar e ter uma maior interação com as cidades a sua volta, na visão de Gláucia foi de grande valia. Na  cidade, as ruas possuem nomes de grandes cientistas, tal como Tesla e Albert Einstein.
Chegando ao CERN pelo domingo à tarde, já se iniciaram os cursos, que durante a semana foram ministrados no período da manhã, já o período da tarde era reservado para visitas técnicas. A grande educação e tratamento dos profissionais do local chamaram a atenção de Gláucia.  Durante um almoço, por exemplo, você podia sentar-se ao lado de um prêmio Nobel e ele iria se mostrar totalmente receptivo para conversar e falar sobre o trabalho que desenvolvia.  Inclusive era uma recomendação que na hora do almoço nos sentássemos ao lado de um desconhecido, pois assim poderíamos conhecer mais pessoas,  ter conversas e contato com cientistas e trabalhos distintos todos os dias.
Um ponto interessante foi saber que os professores portugueses, ao retornarem a Portugal, teriam uma prova teórica sobre os cursos desenvolvidos no CERN, que eram principalmente de física de partículas, e que para a continuidade de seu desenvolvimento eles deveriam ter um rendimento satisfatório. Bem diferente do Brasil, onde ela disse que em nenhum momento foi questionada pela sua Secretaria de Ensino sobre o que foi feito lá.
Porém a Gláucia optou por retornar este investimento feito a ela para a sociedade. Ministrou palestras, deu entrevistas a jornais e canais de TV, fez um relatório extenso e entregou à Secretaria de Educação. Mesmo não sendo cobrada a respeito, se sentiu na obrigação de dar retornou depois do investimento que o Estado fez na sua formação.
O único fato, dito na base de brincadeira, que desagradou Gláucia foi que ela apenas pode ir uma vez, pois de acordo com o programa, o professor pode ir uma única vez para assim dar oportunidade de participação a outros professores.
Em sua visita ela presenciou alunos poloneses, alemães e franceses fazendo visitas ao CERN. O principal enfoque do CERN é tentar despertar a vontade e curiosidade dos alunos para gostarem da área de ciências exatas, pois o número de engenheiros, químicos, astrofísicos, físicos e demais pesquisadores em exatas está caindo drasticamente.
Gláucia entende que deveríamos fazer algo semelhante no Brasil. Temos em Campinas o Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS)  onde os pesquisadores poderiam abrir suas portas e mostrar os trabalhos e pesquisas para assim atrair a atenção dos alunos para as ciências exatas. Diz que se cada diretoria de ensino levasse 20 alunos, o número de alunos interessados em ciências exatas na Universidade cresceria de forma significativa. Enquanto no CERN os pesquisadores querem abrir suas portas, no LNLS parece que os pesquisadores querem fechá-las. É esse tipo de pensamento que deveríamos mudar como cultura e incentivar nossos jovens para o desenvolvimento da ciência.

                   “Física para mim é a base do mundo”, Gláucia.



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