quinta-feira, 6 de junho de 2013

Entrevista Buracos Negros


Entrevista sobre Buracos Negros com o professor Javier Fernandes Ramos Caro do Departamento de Física da UFSCar - São Carlos

PET-LiF: O senhor já trabalhou com algo relacionado a buraco negro?

Javier: trabalhei com coisas relacionadas, mas não diretamente com buracos negros. Estou trabalhando com uma coisa chamada dinâmica de galáxias e dentro dos componentes de uma galáxia podemos encontrar buracos negros. Acredita-se que no centro das galáxias existam buracos negros supermassivos, pois, numa galáxia há várias estrelas e uma porcentagem significativa delas tem condição para virar buracos negros, por exemplo, aquelas estrelas que têm uma massa maior que 3 vezes a do Sol. Um buraco negro é o estágio final da evolução de uma estrela quando acaba o colapso gravitacional, ou seja, quando ela esgota toda sua energia eletromagnética, sua irradiação, a gravitação é então mais forte fazendo com que toda a matéria fique cada vez mais concentrada e ocorre uma situação de densidade suficientemente grande para considerar o que chamamos de buraco negro. Portanto, na evolução de uma galáxia podemos encontra-los.


PET-LiF: Sabemos que as descobertas de buracos negros levam anos para serem concluídas, qual foi o último buraco negro descoberto?

Javier: A gente não tem certeza, por enquanto só se tem indícios de que existem buracos negros. Digamos que só temos 90% de certeza.


PET-LiF: A partir de que observações os buracos negros são detectados já que não podemos observá-los? Seria só em função do movimento de estrelas ou de outros corpos celestes?

Javier: Sim, exatamente. Ou seja, realmente a gente pode inferir a existência de um buraco negro pelo movimento da matéria que está ao lado dele. Algo bem observado, que tem muitos indícios dá-se no chamado disco de acreção, no centro das galáxias. É uma região em forma de disco que é formada pela massa, supostamente absorvida pelo buraco negro das estrelas que ficam perto do horizonte de eventos. Esse disco de acreção, que está no centro das galáxias, vai aumentando cada vez mais a massa dos buracos negros e, por isso, acreditamos que os buracos negros sejam supermassivos, porque há milhões de anos estão absorvendo a massa das estrelas que estão rodeando esse horizonte de eventos. Horizonte de eventos é a região que delimita o buraco negro, ou seja, uma vez que você passa o horizonte de eventos você não pode sair mais.

PET-LiF: Mas não nenhuma forma específica para confirmar se existem? Por isso somente os 90% de certeza? As constatações são sempre a partir de vários anos de observações de outros corpos celestes?
Javier: Exatamente, é a partir da observação. Vocês sabem que comumente na física podemos fazer experimentação, só que para isso temos que ter controle sobre o sistema e  não temos controle sobre o buraco negro. Só podemos ficar olhando e a partir da observação inferir coisas. É só pela observação dos corpos, das partículas, também de observações interferométricas, ou seja, analise da radiação, que podemos inferir coisas. Ninguém foi lá para confirmar. Outra coisa interessante que podemos acrescentar, para ter maior certeza sobre a existência dos buracos negros, é uma coisa chamada radiação de Hawking, Hawking de Stephen Hawking. Einstein, no seu tempo, não gostava muito da teoria da mecânica quântica e então, uma das coisas que Hawking, muitos anos depois pôde concluir seriam absurdas para Einstein, por exemplo, que os buracos negros são resultados de suas equações. Ele não acreditava, mas eram os resultados. O fato interessante é que utilizando a mecânica quântica em buracos negros é possível estabelecer que, no horizonte de eventos, ocorre um processo de interação e aniquilação entre partículas. É possível que alguma coisa saia do buraco negro, a radiação Hawking, ou seja, haveria alguma coisa que poderia sair de informação, que poderíamos extrair dos buracos negros, mas por enquanto não temos tanta certeza do que a gente espera observar. Quando tivermos certeza da radiação de Hawking, certeza absoluta, daí será uma forma direta, concreta, de descobrir buracos negros.

PET-LiF: A localização dos buracos negros gera alguma consequência para os planetas? Nos filmes de ficção científica, sempre mostram um buraco negro como algo prejudicial, quais os benefícios que eles trazem para o Universo, se é que tem algum benefício?
Javier: Bom, benefícios, não sei... Acho que a natureza, ela é uma coisa que é assim, sem pensar em algum benefício ou não, o termo benefício é uma invenção humana... Mas, do ponto de vista humano, a gente poderia achar alguns benefícios sim. Os buracos negros supermassivos contribuem para a formação das galáxias e nós fazemos parte das galáxias.

PET-LiF: Qual seria a contribuição da descoberta de um buraco negro para a comunidade científica?
Javier: A contribuição está no fato de que eles são uma verificação a mais da teoria geral da gravitação de Einstein.  A contribuição para a comunidade científica é que isso é bom para nós que gostamos da teoria de Einstein.

PET-LiF: Há pouco tempo saiu na mídia que haveria um buraco negro no meio da nossa galáxia. Isso traz algum risco? É confiável o que sai na mídia ou a maioria das informações são distorcidas?
Javier: O buraco negro que fica no centro da Via Láctea, tem um nome, Sagittarius A. Não traz nenhum risco para nós que ficamos a uma distância enorme. O Sistema Solar fica a uma distância muito grande do disco de acreção, ou seja, só teria risco se ficássemos perto do disco de acreção do buraco. Porque se uma estrela fica no disco de acreção de um buraco negro, ela vai perder mais rapidamente energia, ela vai morrer mais rapidamente assim como a vida associada a essa estrela.
Na mídia há muita especulação. Veja o LHC: “Nossa isso vai gerar um buraco negro!”; “Isso vai comer a terra!”. Para que isso ocorresse precisaria de uma energia gigantesca. Como eu já disse, para um buraco negro ser criado naturalmente, você precisa de uma massa de pelo menos 3 vezes a massa do Sol. Coisa que atualmente é humanamente impossível. Já não sei futuramente...

PET-LiF: Professor, o senhor gostaria de adicionar mais algo a essa entrevista?
Javier:  Simplesmente gostaria de falar que um dos fenômenos mais interessantes que a gente poderia encontrar é essa questão dos buracos negros. É muito atraente, é interessante você pensar numa coisa da qual a luz não pode sair. É fascinante! É uma coisa que segura a imaginação. Por exemplo, os buracos negros podem proporcionar uma teoria que pode unir a teoria de Einstein com a Mecânica Quântica. Atualmente no campo da física há cientistas trabalhando nisso, numa teoria quântica da gravidade. Então os buracos negros, esses fenômenos quânticos que apresentam radiação de Hawking, são alguns elementos que podem trazer indícios da construção de uma teoria que poderia te dar informação do que acontece em algum lugar. Também a teoria cosmológica moderna considera que quem começou tudo foi um buraco negro. Então essa teoria quântica da gravidade poderia verificar essa informação, o que ocorreu no início do Universo, porque, só se tem a informação de uns 3x10-43 segundos. O que aconteceu antes, talvez uma teoria quântica da gravidade poderia dar alguma informação, tudo isso é motivado por uma questão bem interessante na física teórica. Nós podemos ter vindo de um buraco negro, um buraco negro primordial.