Entrevista sobre Buracos Negros com o professor Javier Fernandes Ramos Caro do Departamento de Física da UFSCar - São Carlos
PET-LiF: O senhor já trabalhou com algo relacionado a buraco negro?
PET-LiF: O senhor já trabalhou com algo relacionado a buraco negro?
Javier:
Já trabalhei
com coisas relacionadas,
mas não diretamente
com buracos negros.
Estou
trabalhando com uma coisa chamada dinâmica de galáxias e dentro dos componentes
de uma galáxia podemos encontrar buracos negros. Acredita-se que no centro das
galáxias existam buracos
negros supermassivos,
pois, numa galáxia há várias estrelas e uma porcentagem significativa delas tem condição
para virar
buracos
negros, por exemplo, aquelas
estrelas que têm uma massa maior que 3 vezes a do Sol. Um buraco
negro é o estágio final da evolução de uma estrela quando acaba
o colapso gravitacional, ou
seja, quando ela
esgota toda sua energia eletromagnética, sua irradiação, a
gravitação é
então mais forte fazendo com que toda a matéria fique cada vez mais concentrada e ocorre
uma situação de
densidade suficientemente
grande
para considerar o que chamamos de buraco negro. Portanto, na evolução de uma galáxia podemos
encontra-los.
PET-LiF:
Sabemos
que
as descobertas de buracos negros levam anos para serem concluídas, qual foi o
último buraco negro descoberto?
Javier: A
gente não tem certeza, por enquanto só se tem indícios de que existem buracos
negros. Digamos que só temos 90% de certeza.
PET-LiF:
A
partir de que observações os buracos negros são detectados já que não podemos
observá-los? Seria só em função do movimento de estrelas ou de outros corpos
celestes?
Javier:
Sim,
exatamente. Ou seja, realmente a gente pode inferir a existência de um buraco
negro pelo movimento da matéria que está ao lado dele. Algo bem observado,
que
tem muitos indícios
dá-se no chamado disco
de acreção, no
centro das galáxias. É
uma região em forma de disco que é formada pela massa, supostamente
absorvida
pelo buraco negro das estrelas que ficam perto do horizonte de eventos.
Esse
disco de acreção,
que está no centro das galáxias, vai aumentando cada vez mais a massa dos
buracos negros
e, por isso,
acreditamos
que os buracos negros sejam supermassivos, porque há
milhões de anos estão
absorvendo a massa das estrelas que estão rodeando esse horizonte de eventos.
Horizonte de eventos é a região que delimita o buraco negro, ou seja, uma vez
que você passa o horizonte de eventos você não pode sair mais.
PET-LiF:
Mas
não há nenhuma
forma
específica para
confirmar se existem?
Por
isso somente os 90% de certeza? As constatações são sempre a
partir de vários anos de observações de outros corpos celestes?
Javier:
Exatamente, é a
partir da observação.
Vocês sabem
que comumente na física
podemos fazer
experimentação, só que para
isso temos que ter controle sobre o sistema e não temos
controle
sobre o buraco negro.
Só
podemos ficar olhando
e a
partir da observação inferir
coisas. É só pela observação dos corpos, das partículas, também de
observações interferométricas,
ou seja, analise da radiação, que podemos inferir
coisas. Ninguém foi lá para confirmar. Outra coisa interessante que podemos
acrescentar, para ter maior certeza sobre a existência dos buracos negros,
é uma
coisa chamada radiação de Hawking, Hawking de Stephen Hawking. Einstein,
no seu tempo, não gostava
muito da teoria da mecânica quântica e então, uma das
coisas que Hawking, muitos anos depois pôde concluir seriam
absurdas
para Einstein,
por exemplo, que
os buracos negros são
resultados de suas equações. Ele não acreditava, mas eram os
resultados. O fato interessante é que utilizando a mecânica
quântica em buracos negros é possível estabelecer que, no horizonte de eventos,
ocorre
um processo de interação e aniquilação entre partículas. É possível
que alguma coisa saia do buraco negro, a radiação Hawking, ou seja, haveria
alguma
coisa que poderia
sair
de informação, que
poderíamos extrair
dos buracos negros, mas por enquanto não temos tanta certeza do
que a
gente espera observar. Quando tivermos certeza da radiação de Hawking, certeza
absoluta, daí será uma forma direta, concreta, de descobrir buracos negros.
PET-LiF:
A localização
dos buracos negros gera alguma consequência para os planetas? Nos filmes de
ficção científica, sempre mostram um buraco negro como algo prejudicial, quais
os benefícios que eles trazem para o Universo, se é que tem algum benefício?
Javier:
Bom,
benefícios, não sei... Acho que a natureza, ela é uma coisa que é assim, sem
pensar em algum benefício ou não, o termo benefício é uma invenção humana...
Mas, do ponto de vista humano, a gente poderia achar alguns benefícios sim. Os
buracos negros supermassivos contribuem para a formação das galáxias e nós
fazemos parte das galáxias.
PET-LiF: Qual
seria
a contribuição
da descoberta
de um buraco negro
para a comunidade científica?
Javier:
A
contribuição está no fato de que eles são uma verificação a
mais da
teoria geral da gravitação
de
Einstein. A contribuição para a comunidade científica é
que isso é bom para nós que gostamos da teoria de Einstein.
PET-LiF:
Há
pouco tempo saiu na mídia que haveria um buraco negro no meio da nossa galáxia.
Isso traz algum risco? É confiável o que sai na mídia ou a maioria das
informações são distorcidas?
Javier: O
buraco negro que fica no centro da Via Láctea, tem um nome,
Sagittarius A. Não
traz nenhum
risco para nós
que ficamos a
uma distância enorme. O Sistema
Solar
fica a uma distância muito grande do disco de acreção, ou
seja, só teria
risco se ficássemos
perto do disco de acreção
do
buraco.
Porque se uma estrela fica no disco de acreção de um buraco negro, ela vai
perder mais rapidamente energia, ela vai morrer mais rapidamente assim como a
vida associada a essa estrela.
Na mídia
há
muita especulação. Veja o
LHC:
“Nossa isso vai
gerar um buraco negro!”;
“Isso
vai comer a terra!”.
Para
que isso ocorresse
precisaria de uma energia
gigantesca. Como
eu já disse, para um
buraco negro ser
criado
naturalmente,
você
precisa de uma massa de pelo
menos
3 vezes a massa do Sol.
Coisa que atualmente é humanamente impossível. Já não sei futuramente...
PET-LiF:
Professor, o senhor gostaria de adicionar mais algo a essa entrevista?
Javier: Simplesmente gostaria de falar que um dos
fenômenos mais interessantes que a gente poderia encontrar é essa
questão dos buracos
negros.
É muito
atraente,
é interessante
você pensar numa coisa
da qual a luz
não pode sair. É fascinante! É uma coisa que segura a imaginação.
Por
exemplo, os buracos negros podem proporcionar uma teoria que pode unir
a teoria de Einstein com a Mecânica Quântica. Atualmente no campo da física há
cientistas trabalhando nisso,
numa teoria quântica da gravidade.
Então os
buracos negros,
esses fenômenos
quânticos que apresentam radiação de Hawking, são alguns elementos que
podem trazer
indícios
da construção
de uma teoria que poderia te dar informação do que acontece em algum lugar. Também
a teoria
cosmológica moderna
considera
que quem começou tudo foi um buraco negro. Então essa teoria quântica da
gravidade poderia verificar essa informação, o que ocorreu no
início do Universo, porque,
só se tem a
informação de uns 3x10-43 segundos. O que aconteceu antes, talvez
uma teoria quântica da gravidade poderia dar alguma informação, tudo isso é
motivado por uma questão bem interessante na física teórica. Nós podemos ter
vindo de um buraco negro, um buraco negro primordial.